Wednesday, April 10, 2013

Desempenho do parasitóide Nasonia vitripennis (Walker)(Hymenoptera, Pteromalidae) utilizando como hospedeiro Cochliomyia macellaria (Fabricius) (Diptera, Calliphoridae), sob diferentes tempos de exposição.

Estudos sobre a viabilidade do uso de Cochliomyia macellaria (Fabricius 1775) (Diptera, Calliphoridae) como hospedeiro do parasitóide Nasonia vitripennis (Walker, 1836) (Hymenoptera, Pteromalidae) foram publicados recentemente por Barbosa et al. (2008 a, b) visando contribuir para o conhecimento do controle biológico de dípteros muscóides, como também para um melhor entendimento sobre a dinâmica populacional deste díptero na natureza. 
Após a invasão e rápida dispersão do gênero exótico Chrysomya Robineau-Desvoidy, 1830 nas Américas (Gagné 1981; Prado 1982), a espécie C. macellaria, antes muito comum nas áreas urbanas e rurais, vem se tornando relativamente rara nesses ambientes (Guimarães et al. 1979). Estudos posteriores efetuados em campo também observaram esse declínio populacional (d'Almeida & Lopes 1983; Baumgartner & Greenberg 1984; Baumgartner 1988 e Marinho et al., 2003). 
Testes laboratoriais observaram a interação entre larvas da espécie nativa com larvas das espécies de Chrysomya (Aguiar-Coelho et al. 1995; Aguiar-Coelho & Milward-de-Azevedo 1995; 1996), verificando que as espécies exóticas possuíam vantagens competitivas durante a fase larval. Até os trabalhos de Barbosa et al. (2008 a, b) não haviam registros sobre as interações entre C. macellaria e o parasitóide N. vitripennis, cujos resultados podem estar, aliados a competição larval com outros dípteros, contribuindo também para a redução populacional desta espécie na natureza. 


Photo by Michael Clarck,
courtesy of the Werren Laboratory



Ler o artigo na íntegra em Revista Brasileira de Entomologia

Friday, April 5, 2013

Relato de Caso: Miíase Associada a Erisipela Bolhosa

Miíase é a presença de larvas de moscas em tecidos do homem ou de outros animais vertebrados, onde se nutrem e evoluem como parasitos. Erisipela é uma celulite superficial que apresenta comprometimento do plexo linfático subjacente, cujo principal agente etiológico é Streptococcus (Rosenbach,1884) beta hemolítico do grupo A de Lancefield. Caracteriza-se por placas eritematosas acompanhadas de dor e edema. Este é o relato de um caso raro de paciente idosa internada em hospital público para tratamento de erisipela bolhosa no membro inferior esquerdo, em cujas lesões, durante a internação, foi detectada a presença de miíase. Foram retiradas várias larvas vivas com auxílio de pinça e prescrita ivermectina para erradicar possíveis larvas remanescentes. O diagnóstico precoce e o tratamento correto das lesões primárias são fundamentais para evitar a ocorrência de afecções como a miíase, cuja instalação atrasa o tratamento e pode agravar o prognóstico.


Artigo completo aqui

Tuesday, April 2, 2013

Terapia Larval: Uma alternativa eficiente para o tratamento de lesões cutâneas


         Desde o Velho Mundo relatam-se infestações de moscas sobre os homens. Na bíblia foram citadas no antigo testamento em Êxodo (8: 20-31), onde o Senhor pede a Moisés para dizer ao Faraó: “deixa partir o meu povo para me prestar culto. Se recusares, mandarei moscas sobre tua pessoa, tua gente, teu povo, tuas casas...”. Esse estigma ainda hoje persiste, fazendo com que as moscas sejam vistas como seres repugnantes e nocivos pela maioria das pessoas. No entanto, entre os Bamilekes e os Bamuns (Nijinji) - povos situados em Camarões, África - esses pequenos insetos eram vistos como símbolo da solidariedade e entre os gregos, a mosca era considerada um animal sagrado, ao qual referiam-se até certos nomes poderosos como os de Zeus ou Apolo, pois acreditava-se que ela poderia evocar o turbilhão da vida olímpica ou a onipresença dos deuses (Chevalier,1906).
       Chrysomya megacephala (Fabricius, 1794), C. albiceps (Wiedemann 1819) e C. putoria (Wiedemann, 1818) (Insecta:Diptera: Calliphoridae)  são espécies de moscas varejeiras originárias da África, Mediterrâneo e Oriente Médio (Gagné, 1981), foram introduzidas no Brasil na década de 1970 quando, nos anos de 1975 e 1976, embarcações que transportavam refugiados de Angola e de Moçambique, animais domésticos e diferentes tipos de alimentos, aportaram nas costas do Sudeste do Brasil. A partir daí, disseminaram-se por diferentes regiões do país (Guimarães et al., 1979), encontrando-se, atualmente, em diversos biótopos: rural, urbano e florestal, prevalecendo sobre as outras espécies de califorídeos em algumas regiões (Guimarães et al., 1978; Souza & Linhares 1997; Carraro & Milward-De-Azevedo, 1999: Marinho et al., 2006).
        Devido ao seu apurado olfato, dípteros da família Calliphoridae  são atraídos por matéria orgânica em decomposição, sendo encontrados em lixões, cadáveres, lixos hospitalares, entre outros ambientes; utilizam-se desses substratos como meio proteico ou para oviposição, por isso, transportam vários microrganismos através de suas patas, atuando, desta forma, como vetores mecânicos de agentes patogênicos, entre eles: enterovírus, bactérias entéricas, esporos de fungos, cistos de protozoários de ovos e larvas de helmintos (Greenberg 1973; Furlanetto et al., 1984;  Campos & Hársi 1984: Queiroz et al., 1999).
      Sabe-se que a mosca varejeira tem um papel fundamental na natureza, sendo decompositora de matéria orgânica, alimentando-se de resíduos e/ou carcaças em estado de putrefação. Algumas espécies, alimentam-se somente de carne em estado de putrefatação e por terem hábito alimentar necrófago, convivem com numerosas bactérias, deste modo, acredita-se que desenvolveram a capacidade de controlá-las. Essa característica específica,vem sendo aproveitada de forma benéfica por diversos cientistas ao redor do mundo e é conhecida como Bioterapia.
       As larvas secretam substâncias com ação antimicrobiana, principalmente contra Streptococcus pyogenes e Streptococcus pneumoniae(Pavillard & Wright, 1957). Por se alimentarem de tecidos de animais em decomposição, conseguem destruir material desvitalisado e, por uma série de mecanismos, auxiliam na cura de lesões cutâneas (Muncuoglu et al., 2007). Larvas são utilizadas para limpeza de feridas infectadas, como, por exemplo, no tratamento de feridas de pele pós-cirúrgicas decorrentes de diabetes e necrosadas, bem como, para úlceras, lesões traumáticas, gangrenas intratáveis e alguns tumores de pacientes com diabetes e até alguns casos de câncer visando à remoção de tecido necrosado (Sanchez et al., 2004)
     As larvas de moscas necrobiontófogas atuam na ferida à partir da digestão de tecido morto, restos celulares, exsudado ou feridas necróticas. A digestão extracorporal é feita devido a liberação de enzimas proteolíticas (colagenases, tripsina e quimiotripsina), mecanismo  através do qual as feridas são limpas. O desbridamento é auxiliado pela ingestão do tecido liquefeito e também devido ao rastreamento das larvas sobre o leito da ferida, além da maceração feita pelos ganchos orais (Sherman et al., 2000).  Há estímulo a migração de fibroblastos auxiliando na remodelação da matriz-extracelular, assim como o aumento da atividade angiogênica, atividade anti-microbiana,  impulso à uma resposta anti-inflamatória e inibidora pro-inflamatória, quebra do biofilme no leito da ferida e alteração do pH da ferida, diminuindo assim, o tempo de cicatrização (Prete, 1997;  Muncuoglu et al., 2001; Horobin et al., 2006; Cazander et al., 2009, 2010; Zhang et al., 2010, Van Der Plas et al., 2010).


     Fotos gentilmente cedidas pelo Dr. Marack Cambal via email pessoal em 27.04.2012

Sequência: a) Lesão com tecido necrosado, b) Ferida recebendo hidrocolóide que servirá de gaiola para               receber as larvas na ferida, c e d) Larvas aplicadas na ferida e cobertas por tecido telado para respiração dos insetos, e) Larvas em 3º ínstar sendo retiradas da lesão após tratamento (estas serão incineradas), f) Ferida com tecido de granulação pronto para cicatrizar.




Fontes:1)Dallavecchia, DL.2013. Comportamento Biológico de Chrysomya megacephala (Fabricius, 1794), C. putoria (Wiedemann, 1818) e C. albiceps (Wiedemann, 1819) (Insecta: Diptera: Calliphoridae) para Utilização de Bioterapia no Brasil. Dissertação de Mestrado,   Biodiversidade Neotropical, UINIRIO, Rio de Janeiro, Brasil.
2) Cambal M, Labas P, Kozanek M, Takac P & Krumpalova Z. 2006. Maggot debridement therapy. Bratislava Medical Journal107(11-12):442-444